Um valente susto para a minha avó

 Eis-nos no 11º mês de um ano de 2020 que tem sido cheio de sobressaltos, surpresas, limitações, preocupações e...algum medo à mistura...pelos nossos pais, tios e avós e pelos nossos amigos e amigas que há mais tempo andam por cá neste mundo de experiências...

Infelizmente, já não tenho avós nem avôs vivos mas, as lembranças deles são ainda parte de mim...e Eu fui (e sou!) também fruto delas.

Veio-me à memória um episódio da minha vida tinha eu 15 ou 16 anos... e só me lembro...coitadinha da minha avó Isabel 💖... preguei-lhe um belo susto!

A minha vida de desportos de água e de deslize começou aos 14 anos com o windsurf. Via desde sempre o João Borges (o nosso agora sempre disponível amigo do barco de nome RULITA)  ensinar windsurf aos seus filhos (não deviam ter mais de 6 ou 8 anos) ali na Ria Formosa em Cabanas, mesmo em frente onde agora é a rampa onde se entra nos barcos para a travessia...e ficava a olhar desejando experimentar também...as velinhas e as pranchas pequeninas eram um deslumbre para mim... 

Um dia finalmente consegui que o meu tio João (que já dava uns toques no windsurf) e o seu amigo alemão a quem todos chamam João (o seu nome alemão não fazia sentido nas Cabanas) me ensinassem a navegar na prancha de windsurf...lembro-me de andar ali pela Ria (antes era muito mais larga!) a fazer os meus primeiros metros em cima da prancha com o João sempre noutra prancha por perto.

Não sei quanto tempo demorei a aprender...já não consigo ter esses detalhes presentes mas consegui e comprei uma prancha e vela BIC ao João (vendi mais tarde e com direito a aulas a uma GRANDE senhora na minha vida: a minha orientadora de estágio na faculdade, a Margarida Gaspar de Matos).

Entretanto, já lhe dava muito bem, fazendo algumas manobras mais "nices" como o shampôo (durante a navegação, forçar a inclinação da vela na minha direcção, molhar a cabeça e os cabelos e voltar a subir, continuando a navegação...dava-me grande gozo fazer essa brincadeira e refrescar-me em andamento 😊👍

Outra coisa que já dessa altura adorava fazer, era navegar em downwind até ao Lacém ou à Fábrica pela Ria e voltar...sentia-me uma aventureira...Ahahahah 
E é num desses dias que a história se passou. Mas, nesse dia resolvi ir num ímpeto de momento e não avisei ninguém. O vento estava tão bom que não dava para resistir.
E fui!
Fiz bordos, naveguei à popa...estava tão feliz que em vez de ir só até ao Lacém... resolvi ir até à Fábrica. E por lá fiquei de maré cheia a fazer bordos...muito BOM!
Como sabemos todos...a maré depois de estar cheia começa a vazar... e o vento de sudoeste com o avançar da tarde e o baixar do sol no horizonte....baixa também de intensidade...até que pára....LOL... pois...
Eu também sabia, mas estava tão feliz....ahahahahah


Claro que apesar de já ter começado a navegar pela Ria, de volta a Cabanas, quando o vento caíu e a água deixou de ser mais do que um ribeiro de cerca de 30cm/40cm de profundidade eu estava no máximo a metade do percurso!! E o patilhão da prancha já não permitia a navegação, tive que o retirar, para poder ter a prancha a flutuar...
Dizer que, naquela altura na maré baixa, a água vazava praticamente na totalidade, íamos a pé para a Ilha pelo que eu sabia que tinha que acelerar na caminhada ou deixava de conseguir pura e simplesmente avançar... E assim foi, patilhão em cima da prancha, prancha a flutuar e mastro e vela em cima dos meus ombros...e tentava ser rápida para chegar ainda de dia... mas, a areia fofa e as zonas de lama e lodo não era grande ajuda à rapidez e claro está...escureceu... 
Nesta altura eu sabia que os meus avós (eu passava sempre os 3 meses de férias em Cabanas com eles. Os meus pais trabalhavam em Lisboa e só vinham em Agosto) já deveriam estar super preocupados e sentia já um pouco de remorços e culpa... Mas, não havia muito a fazer...só tentar ser o mais rápida possível...

Perto da fortaleza já em Cabanas, há um ribeiro que torna muito difícil e na altura perigoso tentar passar aquela zona a caminhar...
Porque ali, o volume de água era um pouco maior (acho até que já estava a encher novamente...lol) e resolvi meter-me em cima da prancha e com uma "bufinha" de vento norte lá consegui ir navegando muito lentamente...até ter que desmontar novamente e caminhar no meio da Ria um pouco mais...e foi neste momento que comecei a ouvir muitas vozes, alguma confusão e focos de luz.. e percebi que gritavam repetidamente: "Sandra!!! és tu???"...LOL Gritei de volta que sim.
À medida que me aproximava deles (eles estavam onde antes era a muralha de pedras e agora é o início do passadiço do lado da fortaleza), percebi uma pequena "multidão": alguns dos meus amigos de juventude como a Carla, a Sofia, o Luigi as minhas primas Isabel e Fatinha, a minha avó e alguns pais dos meus amigos, nomeadamente à cabeça da "patrulha de salvamento" e de foco na mão, o pai da Carla. Vieram ter comigo...estavam a preparar-se para ir á minha procura!!
Do meio deles veio a minha avó na minha direcção, chorosa e de braços abertos, repetia: "Minha filhinha, pensei que nunca mais te via..." "Ora bolas, fizeste mesmo merda Sandra!" Pensei, abraçando-a agradecida pelo seu amor. Pedi desculpa, claro....a todos. mas, passou rapidamente para uma gargalhada geral a minha penitência de ter que caminhar a carregar o material por não ter tomado a melhor decisão quando ainda tinha tempo 😂😂😁😁  Contaram-me também que tinham telefonado para o restaurante da Fábrica a perguntar se tinham visto uma rapariga a fazer windsurf... Eles tinham respondido que "Sim, mas há muito tempo, já!" LOLOL

Prometi à minha avó que não voltava a fazer. E não voltei. Mas, a história por vezes é recordada por algum dos protagonistas e é risada geral 😉

Nestes momentos, é tão bom recordar. Mas, também é importante não deixar de estar hoje com as nossas pessoas...ainda que por vezes com máscara e a uma distância de segurança. 

Fiquem bem.
Fiquem em segurança.
Até breve.




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